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quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Bom para viver ruim para ganhar dinheiro


"Quando cheguei a Juiz de Fora na década de 1990, muitas pessoas nascidas nesta cidade declararam com pesar ou conformadas que aqui era “um lugar bom de morar e ruim para ganhar dinheiro”. Curiosa incoerência reconhecível de fato nas limitações dos postos de trabalho, dos salários e da capilaridade do giro do dinheiro, ao mesmo tempo em que se elogia a qualidade de vida da cidade. 20 anos depois, esta expressão ainda é frequente, apesar do crescimento da população e de certa expansão do comércio, acompanhados da instalação de algumas indústrias. Já Olhando para a produção da construção civil, diríamos que a cidade cresceu muito. No entanto, a cidade ainda padece daquele mal sobre o qual pouco se fala e muito se lamenta; há pouco trabalho e pouco dinheiro na praça.
De fato, nos últimos 20 anos a indústria e o comércio de imóveis da cidade ao mesmo tempo em que consolidaram a maior fonte da riqueza local, sobrevalorizou os imóveis a patamares que fazem inveja a cidades como Ribeirão Preto e Campinas, ou mesmo São Paulo e Rio de Janeiro. A maior parte desta riqueza imobiliária está evidentemente, como acontece também em Belo Horizonte, nas mãos de uma fração muito pequena da população, trata-se de uma espécie de classe social cujo traço característico é realmente a capacidade de renda auferida pela propriedade de imóveis. Esta espécie de classe social local e as suas adjacências financeiras têm permanecido no topo da pirâmide social mantendo uma dinâmica econômica pela qual a riqueza gerada pelos imóveis é reinvestida quase que exclusivamente em mais imóveis, ou seja, tirante as exceções de praxe, quem tem dinheiro proveniente de imóveis raramente investe em trabalho que não seja aquele de construir mais um imóvel.
Se de fato, uma cidade como Juiz de Fora vive sob o capitalismo, a impressão que se tem é que parte considerável de sua elite financeira não sabe e não quer saber o que significa economia de mercado. A acumulação de capital proveniente da renda de imóvel vem daqueles que pagam para morar e que pagam para trabalhar, se parte necessária deste dinheiro não retorna á “praça” na forma de investimento em trabalho, postos de trabalho, mais pessoas com capacidade de pagar por bens, inclusive, bens imóveis, então a economia local fica engessada. Não bastasse um descompasso enorme entre a riqueza gerada pelos imóveis e a demanda por investimento em trabalho (comércio, serviços e etc.), os instrumentos de revalorização dos imóveis operam especulativamente tornando mais difícil ainda as condições de vida e trabalho da maior parte da população que sem poder fazer outra coisa obedece às incoerentes regras do mercado local. O que se vê é que a média dos salários da cidade não consegue mais pagar pelos imóveis sem fazer um grande sacrifício (metade da renda; já não é tão bom assim “de morar”), ao mesmo tempo em que os imóveis destinados ao trabalho representam um custo fixo proibitivo a qualquer negócio. Em outras palavras: Quanto mais as classes trabalhadoras gastam com moradia, menos elas podem gastar no comércio, quanto menos gente estiver trabalhando, menor a capacidade de consumo que sustenta o mercado local.
Não há dúvida que potencialmente Juiz de Fora tem vocação para comércio e serviços, mas carrega dentro de si, por força de uma dinâmica histórica anacrônica a sua própria recusa em crescer como mercado, se permitindo cada vez mais contar apenas com a transitoriedade das populações flutuantes estudantis e de aposentados, sonegando a si mesma investimento para o longo prazo. "

Autor : Amigo do blog